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Criança Distraída. |
Os amigos brincaram a tarde toda, tomaram o lanche e voltaram pra
rua. Antes de sair de casa, sua mãe pediu para chegar antes do jantar, para dar tempo de tomar banho, escovar os
dentes e dormir.
Na rua, adultos sentados na calçada tomando cerveja, jovens
ouvindo música alta encostados num carro, uma mulher mentalmente perturbada falando sozinha na esquina e os
meninos caminharam até o parque.
A luz do poste queimada a tempos não é trocada, balanços de uma corda
só e sem acento porque foi levado, no chão se acumula o entulho deixado por trabalhadores durante o dia, vasilhames de vinho, cerveja e bitucas de cigarro deixados a noite. Ascenderam a fogueira, não era para brincar com fogo mas os meninos
trouxeram batata para assar, ficaram contando
historias e vendo o tempo passar...e o tempo passou, que não viu a hora
chegar: a rua está vazia e ninguém a ver e escutar.
Sabia que deveria correr, quanto antes melhor e
menor a bronca da mãe, despediu-se dos amigos e foi embora, quando atravessou a rua
viu um rapaz sentado ao lado de um cachorro, aproximou-se dele e o
cachorro entrou no saco.
- Você veio pra perto e ele ficou com medo, por isso se escondeu no saco. - Disse o rapaz.
- Mas eu não fiz nada - Respondeu o menino.
- Então pega ele pra mim! - Retrucou o estranho.
O menino abriu o saco e o rapaz empurrou-lhe pra
dentro, fechou o saco com o cachorro e tudo! pôs nas costas e enquanto andava, entoava uma canção antiga.
Quando a mãe apareceu no parque os meninos dizeram
que ele tinha ido embora, ela achou estranho e pediu para um dos meninos
acompanha-la. Em casa não viu seu filho e entrou em estado
de choque, sentou no sofá e começou a chorar, o pai foi para os fundos para vasculhar a caixa de ferramentas.
- O que procura na caixa? - Perguntou o menino.
- Eu sei que ele sumiu, eu sempre digo para não se atrasar;
agora vai procurar a sua turma e deixe-me concentrar. - Respondeu.
Então voltou para a sala onde a mãe irreconhecível estava
sentada sem falar; ela era tão linda, mas seu rosto estava pálido e sem vida, seus olhos inchados e o cabelo despenteado:
- Você sabe pra onde levaram o meu filho, responde que eu sei
que você sabe. - Com raiva a mãe gritou.
- Calma senhora, não tenho nada a ver. - Respondeu o menino.
- Eu sei que foram os rapazes do carro, só pode. - Disse a
mulher.
Naquele instante o marido aparece para consolar a esposa e deu um martelo na mão da criança, dizendo:
- Volta pra casa e se alguém tentar levar, da uma
martelada na cabeça dele, depois peça ajuda.
"As lágrimas da vizinhança inconsolada pela perda de um
menino do qual todos se alegravam, pelas mãos sujas do homem, se perdeu
dentro de um saco; sabe-se lá pra onde, ninguém jamais o viu e nem sabem se vai
voltar. Sua mãe reza antes do jantar, na mesma hora em que deveria estar
sentado hoje o lugar está vago, seu dormitório segue igual e para o pai resta a esperança que o coração do homem perverso encontre luz e paz."
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Homem do Saco |
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